domingo, 27 de junho de 2010

Colecionando coleções colectáveis.


Uma vez um amigo me disse que colecionadores são pessoas tristes. Até hoje não entendi. Coleciono um monte de coisas. Cds de rock progressivo, filmes de ficção científica, lápis de cor, miniaturas de espaçonaves e mais um monte de bobagens. Não me apego muito aos itens, na verdade se alguem gostar, leva. Obviamente não dou o que uso se não for conseguir outro. Um disco dos Beatles tem mais chance de virar presente que um do Flash.

Tenho um amigo que coleciona guitarras Fender. Ele curte. Atravessa o mundo atras do modelo com o qual sonhou ou viu num catálogo. Quando obtem o item, fica satisfeito e não me parece que isso o transform numa pessoa triste, na verdade ele fica exultante com novos objetivos e velhas conquistas. Um dia ele me deu uma. Quando fui na casa de um amigo em comum descobri que havia dado uma a ele tambem. Provavelmente presentear os amigos com guitarras o deixa satisfeito consigo mesmo, o faz se sentir bem. Se não fossem as guitarras seriam frase inteligentes ou qualquer coisa que colecionasse. Isso me estimulou a estudar mais musica, coisa que sempre negligenciei

As coleções dão um certo expertize as pessoas. Quem coleciona locomotivas eletricas sabe tudo sobre este universo, os modelos Märklin de 1936, Lionel, sistema H.O., trilhos, vagões, controladores, montanhinhas, pessoinhas em escala, estações, enfim todo um planeta ferromodelista. Alguns ocupam-se com estes brinquedos pois alguns de nós nunca crescem. Conheço gente que coleciona maquinas fotográficas, motocicletas, botões, mâscaras africanas, santos de madeira, gibis, essencias e aromas, as coisas mais inesperadas. Isso não é a vida delas, mas é ao que parece um passatempo divertido.

Ha no entanto pessoas que colecionam coisas inverossimeis que não servem para nada como jornais velhos, potes de vidro, tomadas, parafusos, paninhos, canetas sem carga, pilhas usadas e neste caso acho que chega a beira de ser quase uma doença. Conheço gente que tem a casa entupida de bagulhos de diversos generos, dá a impressão que temem o futuro, que podem precisar ler algum jornal velho, precisar de um pote ou ficam simplesmente com pena de jogar fora algo tão bonito. Acho que era isso que meu amigo se referia.

O colecionar na verdade não pode ser confundido com o juntar. Ha tambem de se ter uma inclinação, algo que delimite um território de conhecimento específico, algo que personalize a vida. Acho estupido colecionar figurinhas que vendem na banca de jornais, mas acho interessante colecionar cartões postais, selos, barcos, canetas tinteiro, coisas que preencham nossa atividade intelectual. Sempre encontramos pessoas que colecionam coisas que colecionamos, são novas amizades movidas por algum interesse comum, gente que tem hábitos coincidentes ou gostos parecidos com os nossos. Encher a casa de tralhas fecha o fluxo de entrada em nossas vidas, colecionar parece causar o movimento oposto, mesmo se colecionarmos apenas algo tão comum como bons livros.

Morremos todos, e sabemos que nada disso vai pra tumba, não somos faraós egipcios, nem mesmo vai nosso espirito ficar rondando nossa coleção de tampinhas de cerveja o dia em que batermos as botas. Ha coleções que podemos levar para o alem, como as boas amizades, feitos benevolentes, conhecimentos, mas isso não se pode colocar numa estante.

Quando me sinto acuado ou com raiva, meu primeiro instinto é botar fogo em minhas coleções ou pisotear os itens, prova de que estou insatisfeito comigo mesmo. Quem junta coisas, quando fica com raiva, se esconde no meio da montanha de cacarecos. Parece que isso oferece proteção contra o mundo e as coisas que acontecem. Seja la como for colecionar parece ser muito humano. Nenhum bicho coleciona coisa alguma, o que da uma dica de que talvez colecionar seja errado. Mas a maioria das coisas que o ser humano faz é errado. Imagino se numa sociedade ideal as pessoas colecionariam alguma coisa.

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